ADOLESCÊNCIA — SUICÍDIO E DEPRESSÃO — IDEAÇÃO E FATORES DE RISCO.
- Moyses Araujo
- 9 de mai. de 2016
- 6 min de leitura

Estes temas são corriqueiramente abordados com ênfase nos adultos, mas e os adolescentes?
Suicídio é morte por lesão autoprovocada (Shneidman,Farberow, & Litman, 1969). É um ato voluntário contra a vida, auto-infligido, que resulta em morte (Botega, 2000; WHO,2002). É um fenômeno complexo e universal que atinge todas as culturas, classes sociais e idades, e possui uma etiologia multivariada, englobando elementos biológicos (neurológicos), genéticos, sociais, psicológicos (conscientes e inconscientes), culturais e ambientais.
Procurando entender o suicídio dentro da perspectiva dos comportamentos violentos, é possível defini-lo como a ação de um indivíduo, que ocasiona a sua própria morte ou afeta sua integridade física, moral, mental ou espiritual (Minayo & Souza, 1998). Sobre sua etiologia, Maris, Bermann e Silverman (2000) destacam os fatores psicossociais, as doenças crônicas, a biologia, a personalidade, os transtornos psiquiátricos e a história genética e familiar como de extrema importância.
Em termos epidemiológicos, o suicídio atinge, mundialmente, a cada ano, índices de 16 mortes em 100.000 habitantes, o que representa uma morte a cada 40 segundos. Está entre as dez principais causas de morte em todo o mundo, para todas as faixas etárias, e entre as três principais em jovens com idade entre 15 e 34 anos (WHO, 2002). Nos últimos 45 anos, os índices de suicídio aumentaram 60% em todo o mundo. A falta de consciência sobre o suicídio é o maior problema e um tabu em muitas sociedades que não o discutem abertamente.
Em relação aos jovens, os índices de suicídio têm aumentado significativamente, principalmente em países como Austrália, Canadá, Kuwait, Nova Zelândia, Sri Lanka e Reino Unido (Hagedorn & Omar, 2002; WHO, 2001, 2002). Este é um dado bastante alarmante, uma vez que o suicídio causa grande comoção social, especialmente quando ocorre na população jovem (Souza, Minayo, & Malaquias, 2002). Em termos de adolescência estes autores, realizaram um estudo com jovens entre 15 e 24 anos, demonstrando a incidência de casos de suicídio em onze capitais brasileiras (Belém, Fortaleza, Natal, Recife, Belo Horizonte, Vitória, Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre), entre os anos de 1979 e 1998.
Todas as cidades estudadas apresentaram um aumento de seus índices de suicídio durante esse período. Salvador e Rio de Janeiro tiveram as menores taxas de suicídio, enquanto Porto Alegre e Curitiba apresentaram as maiores.
O suicídio na adolescência torna-se singular, na medida em que, geralmente, nesta fase do desenvolvimento, aparecem sentimentos intensos de baixa autoestima e mesmo quadros psiquiátricos de grande risco (Sukiennik, 2000). Atitudes de arrogância e enfrentamento, que procuram demonstrar muita força interior, na realidade, pode ser um pedido de ajuda, de limites, de carinho, de expressão de dúvidas e angústias.
Os adolescentes podem adotar condutas deliberadamente danosas à sua integridade e atravessam toda uma gama de manifestações que podem indicar uma patologia, crescendo os riscos de problemas emocionais, dentre os quais, os sintomas depressivos e a ideação suicida parecem estar entre os mais preocupantes (Brooks-Gunn & Petersen, 1991).
Para que se possa atuar de maneira preventiva em relação aos comportamentos suicidas é preciso estar ciente e alerta para os diversos fatores de risco e de proteção, apontados pela literatura. Ainda não se sabe com certeza quais são os fatores ou combinações de circunstâncias que levam um jovem a atentar contra sua própria vida. Contudo, alguns fatores suicidógenos da adolescência são bastante mencionados como, por exemplo, aspectos melancólicos, ideias de morte e a natural impulsividade (Cassorla, 1987). Shaffer e Pfeffer (2001) relatam que fatores desenvolvimentais e sociodemográficos são fundamentais para a presença de comportamento suicida em crianças e adolescentes. A partir disso, é importante salientar que, em cada caso de suicídio de adolescente, há mais de um problema existente e os riscos são cumulativos.
Dessa forma, os fatores de risco mais enumerados pela literatura internacional (Cassorla, 1987; De Leo, Bertolote & Lester, 2003; Goldman & Beardslee, 1999; Shaffer & Pfeffer,2001; WHO, 2001, 2002), para o suicídio na adolescência são: culturais e sociodemográficos (desemprego na família ou problemas financeiros); familiares (transtornos psiquiátricos e suicídio na família, família violenta e abusiva, pouco cuidado dos pais, mudanças frequentes de residências, expectativas elevadas ou baixas demais dos pais em relação ao filho, pais com autoridade excessiva ou inadequada, rigidez familiar, pouca comunicação dentro da família, brigas, divórcio, separações, famílias adotivas); estilo cognitivo e personalidade (humor instável, comportamento antissocial, condutas irreais,alta impulsividade, irritabilidade, rigidez de pensamento, escassa habilidade para resolver problemas, incapacidade de entender a realidade, tendência a viver em um mundo ilusório, fantasias de grandeza alternada com sentimentos de desvalorização, frustração, ansiedade excessiva, depressão, desesperança, isolamento, petulância, sentimentos de inferioridade encobertos por manifestações de superioridade, rechaço, comportamento provocador, relações ambivalentes com os pais, com outros adultos ou amigos); perdas (separações de amigos, colegas ou namorado (a), morte de pessoa significativa); doença física (dor somática); conflitos interpessoais e problemas de relacionamento (violência e trauma físico, problemas legais, envolvimento em brigas); transtornos psiquiátricos (depressão, transtornos de ansiedade, transtornos psicóticos, transtornos de conduta, transtornos alimentares,transtorno borderline, abuso de álcool e drogas); tentativa prévia de suicídio ou história de comportamento suicida; suicídio de amigo ou conhecido.
Por outro lado, uma pequena porcentagem de suicídios ocorre em adolescentes vulneráveis que estão expostos ao suicídio na vida real, ou através da mídia, ou sob a influência de alguém que tenha comportamento suicida (WHO, 2001). Com base nesses dados, há estudos que aplicam, principalmente no que se refere ao suicídio na adolescência, o termo “suicídio contagioso”, utilizado para definir um excessivo número de suicídios que ocorrem em questão de pouco tempo um do outro, ou em proximidades geográficas (na mesma comunidade, por exemplo). Um suicídio facilita a ocorrência de outro,pois a imitação do processo serve como modelo para sucessivos suicídios. Esse contágio pode se dar através de contato direto com a vítima, pela amizade com esta, por transmissão da mídia ou por conhecimento de boca-a-boca.
(Fonte: Revista Interamericana de Psicologia/Interamerican Journal of Psychology — 2005, Vol. 39, Num. 2 pp. 259–266 — Blanca Susana Guevara Werlang e outros)
Mesmo com o avanço significativo da ciência médica, algumas manifestações permanecem obscuras no campo da psicologia. A mente humana guarda mistérios ainda não desvendados.
Pesquisadores procuram responder o que leva o ser humano a desrespeitar o seu instinto de autopreservação. Também não é possível explicar, por exemplo, porque algumas pessoas que enfrentam as mesmas situações não cometem suicídio como fazem outras. Aos olhos da ciência, as causas do suicídio não estão totalmente esclarecidas.
Para explicar o suicídio na visão espírita, usaremos as considerações contidas em “O Livro dos Espíritos”, destacando as questões 943 a 946:
943. Donde nasce o desgosto da vida, que, sem motivos plausíveis, se apodera de certos indivíduos?
“Efeito da ociosidade, da falta de fé e, também, da saciedade”.
944. Tem o homem o direito de dispor da sua vida?
“Não; só a Deus assiste esse direito. O suicídio voluntário importa numa transgressão desta lei.”
945. Que se deve pensar do suicídio que tem como causa o desgosto da vida?
“Insensatos! Por que não trabalhavam? A existência não lhes teria sido tão pesada.”
946. E do suicídio cujo fim é fugir, aquele que o comete, às misérias e às decepções deste mundo?
“Pobres Espíritos, que não têm a coragem de suportar as misérias da existência! Deus ajuda aos que sofrem e não aos que carecem de energia e de coragem. As tribulações da vida são provas ou expiações. Felizes os que as suportam sem se queixar, porque serão recompensados! Ai, porém, daqueles que esperam a salvação do que, na sua impiedade, chamam acaso, ou fortuna! O acaso, ou a fortuna, para me servir da linguagem deles, podem, com efeito, favorecê-los por um momento, mas para lhes fazer sentir mais tarde, cruelmente, a vacuidade dessas palavras.”
Analisando as respostas acima, torna-se evidente a posição do espiritismo com relação ao suicídio. Independentemente de credo religioso, o posicionamento dado, é de total bom senso…
Na visão espírita, o sofrimento do suicida só termina quando o espírito consegue passar com êxito por todas as provações que o levaram a cometer o suicídio e ainda resgatar os prejuízos acumulados com o feito do ato criminoso. Isso pode levar séculos, estendendo-se por duas, três, ou mais existências subsequentes. Para o espírito gozando de plena consciência da lei do progresso, caracteriza-se como uma perda de tempo incalculável.
Um suicida no plano espiritual torna-se escravo da própria consciência e é acometido por um grande sentimento de culpa, o que lhe causa dor, portanto, aqueles que se suicidam pensando em colocar fim no próprio sofrimento enganam-se, pois após o desencarne passam por grandes dificuldades causadas por seu ato criminoso e posteriormente tem de voltar à vida terrena para passar pelas mesmas provações que os fizeram sucumbir.
Como o desencarne de um suicida acontece de forma violenta, o perispírito permanece lesionado, causando um grande desajuste na organização espiritual. Na maioria dos casos é necessário submetê-lo a uma reencarnação compulsória para reparar os danos causados. O espírito deve estagiar em corpos físicos atrofiados, o que pode explicar alguns casos de crianças que nascem em estado de completa idiotia ou deficiência física.
Tudo depende de onde está a lesão no perispírito.
Quando o suicídio é acompanhado de um homicídio, as consequências são ainda maiores.
Já falamos em outros artigos sobre características da depressão, dos riscos de obsessão e assédio espiritual. Então, se você conhece alguém, ou algum jovem, que se enquadre nessas características ou cujo convívio familiar ou social possa ser desfavorável a sua personalidade frágil, ajude-o antes que seja tarde demais…